A importância de deixar as crianças livres para se vestir

Vestir-se sozinho pode até ser uma conquista das crianças que pais, mães e cuidadores incentivam para tirar da frente mais essa tarefa. Mas, para além de tornar a rotina mais fácil, aprender a se vestir é um marco relacionado ao desenvolvimento físico, cognitivo e socioemocional das crianças. Isso sem falar na roupa como expressão de identidade. 

O que a criança aprende quando se veste?

Os aspectos do desenvolvimento físico são os mais aparentes. Afinal, vestir-se sozinha significa que a criança domina movimentos de pernas, tronco, braços e mãos. Ela consegue, por exemplo, se apoiar num pé só e passar uma das pernas no short. Ou esticar o braço para trás e colocar a manga do casaco. Sem falar na coordenação motora fina necessária para fechar um botão. 

Mas a hora de colocar a roupa envolve muito mais do que isso. Do ponto de vista cognitivo, ao se vestir a criança aprende nomes das roupas, cores, partes do corpo. Também aprende a planejar o que vestir, de acordo com o clima e a ocasião. E, testando, descobre que existe uma sequência certa neste processo.

Aprende ainda a diferenciar frente e trás, lado direito e avesso e saber quando a roupa está limpa ou suja (e o que fazer com elas). Enquanto aprende a se vestir sozinha, a criança também desenvolve a autoconfiança de realizar tarefas, testa a capacidade de lidar com a frustração quando tenta algo e não consegue. Leva tempo até saber fechar um casaco de zíper, e mais ainda para dar laço com o cadarço do tênis.

Quando a criança finalmente consegue se vestir sozinha, ela conquista uma autonomia importante e uma oportunidade de brincar com a imaginação e com a sua própria identidade. Mas quando é a hora de deixar a criança livre para se vestir? 

As crianças e suas fases

Os seres humanos nascem totalmente dependentes dos adultos. Mas desde aí inicia uma etapa de extremo aprendizado que é a infância. Para cada idade podemos esperar conquistas importantes e estimular as crianças para que possam ir além. 

0 a 1 ano – o bebê é um cientista!

 

Tem gente que fala que bebê é uma esponja e absorve o que está em volta. Ou que é uma tela, pronta para ser pintada. Mas essas duas formas de enxergar o bebê estão defasadas. Deixa eu te contar que as mais atuais pesquisas apontam o bebê como um cientista: 

seu grande trabalho é criar teorias sobre o mundo e testar suas hipóteses. E ele faz isso brincando. 

Quando ele chuta um móbile e percebe que se mexeu, ele experimenta de novo e aprende com o resultado (aliás, é por isso que criança se encanta repetindo a mesma coisa diversas vezes). E nesta aventura da descoberta, a primeira coisa que o bebê quer pesquisar é ele mesmo e o corpo que ele tem. Olha só o que dá para fazer com ele no ato de vestir:

 

  • Nomear as roupas e as partes do corpo enquanto veste a criança; 
  • Descrever o que está acontecendo: “Vamos colocar essa perninha no short? Cadê a cabeça do neném? Vou achar a cabeça do outro lado da camiseta? Hora de passar o braço pela manga do casaco!”.

 

1 a 3 anos – pequenos exploradores

As crianças já conhecem o processo de “descobrir” e avançam para o “explorar”. Em outras palavras, elas testam alternativas de uma mesma coisa para ver até onde podem chegar com cada descoberta. Por exemplo: “se eu sempre coloquei a calça pelas pernas, o que acontece se tentar passar pela cabeça?”. Ou ainda: “qual vai ser a reação desta pessoa, se ela me vir com a roupa ao contrário?”. É o momento de a criança entender como a cabeça dos outros funciona. 

Tem mais! É impressionante como as crianças em pouco tempo vão de um andar cambaleante para subir as escadas correndo. E se num dia elas só verbalizam “mamã”, no instante seguinte, falam pelos cotovelos. Parece mágica. (pensando bem, o desenvolvimento é mágico mesmo!). É nessa fase em que a criança aprende a se vestir sozinha. No começo ela levanta braços e pernas, passa os braços pelas mangas e consegue tirar meias e sapatos.

Aos poucos, consegue tirar casacos abertos, passar os braços pelas mangas, abaixar calças, shorts e saias de elástico na cintura. Até que, por volta dos 3 anos, ela já sabe tirar camisetas.

Nosso papel nesta etapa, além de ficar babando, é:

  • Oferecer opções para ela montar os looks. “Você prefere o casaco azul ou verde?”;
  • Aceitar que a roupa pode ficar do avesso ou de frente para trás de vez em quando. Em vez de cobrar o perfeitinho, comemore o que a criança consegue fazer;
  • Ter paciência e entender que o tempo da criança é diferente do seu. Você regula a vida pelo relógio. A criança vive o momento e se perde no tempo;
  • Facilitar a hora de se vestir com roupas que sejam confortáveis e divertidas;
  • Mostrar truques para as partes mais difíceis: sentar para colocar a roupa ou procurar a etiqueta para saber o lado certo, por exemplo. 

 

4 a 6 anos – crianças inventoras

Depois de descobrir e explorar, chega o momento de inventar! Afinal, depois que a gente já sabe como é, podemos ter a liberdade de criar, modificar, testar novidades! Com a criança acontece a mesma coisa. É como se tivesse um pico de criatividade nessa idade. 

Nada é mais divertido que brincar de faz de conta. Em cada nova história inventada, tem um laboratório de vida real. Você vai se surpreender um dia com as crianças te imitando, usando suas roupas e copiando seus looks. Os adultos próximos são uma grande referência. 

Esta é a fase em que a criança vai aprender tarefas mais complexas do processo de se vestir, como afivelar cintos e saber qual é a meia que vai em cada pé. Ela também sabe qual é a frente de uma roupa e consegue fechar uma roupa com zíper. Com 6 anos, podemos esperar que a criança se vista sozinha, sem supervisão.

 

Daí que a gente ajuda cultivando a autonomia e empoderando as crianças a expressar sua identidade nas roupas que escolhe. Que tal:

  • Atentar para o que a criança já consegue fazer e apresentar novos desafios;
  • Respeitar a opinião dela e aceitar suas preferências. Bem como deixar de lado o que incomoda a criança. Lembre-se, a roupa é uma forma de expressão;
  • Permitir que a criança “brinque” com suas roupas e tenha liberdade para escolher;
  • Fantasia para ir ao supermercado? Por que não? Escolher sozinha o que usar é uma conquista importante;
  • Encontrar formas brincantes de lidar com os desafios da hora de se vestir. Por exemplo, se você está com pressa e a criança está enrolando, pode fazer uma competição para ver quem se arruma primeiro: você ou ela;
  • Planejar o tempo para ajudar a criança a fazer suas tarefas sem pressa. Acordar uns minutinhos mais cedo para a criança se arrumar sem precisar correr ajuda! Uma alternativa é ensinar a deixar a roupa separada no dia anterior;
  • Explicar o porquê de se usar roupas mais formais quando a ocasião pede ou de combinar as escolhas com a temperatura e clima do dia. 

Olha como é importante deixar a criança livre para se vestir. As crianças saem mais autoconfiantes e empoderadas e mais capazes de identificar o seu estilo e ser o melhor que elas podem ser! Se você se interessa pela temática de educação infantil, não deixe de conferir o texto sobre as personalidades do brincar.