Como meditar quando você mal consegue ficar parado?

Em tempos de alta tensão, a gente precisa mais do que nunca aprender a manter o foco e acalmar a mente. Mas como fechar os olhos, prestar atenção na respiração e deixar de lado a lista de compras, a pilha de boletos a pagar, o bate-estacas do vizinho e todos os perrengues da vida? Enfim, como meditar quando você nem consegue ficar parado? Spoiler: não precisa parar!

Para te ajudar a chegar lá, a gente conversou com Marcelo Maia, instrutor de mindfulness, técnica que desenvolve a capacidade de atingir um estado de atenção plena por meio da meditação formal e de outros exercícios. Fundador da Momento, empresa que tem um app de meditação, ele deu dicas para lidar com as distrações durante a prática. E, no fim das contas, a lidar melhor com as distrações que surgem em tudo, das pequenas às grandes tarefas:  entrega de um trabalho, durante a ioga e outras atividades físicas, em reuniões e conversas. 

“A diferença entre fazer as coisas com atenção e sem atenção é que, quando você faz com atenção, além de estar treinando a sua mente, você abre a sua percepção, até para mudar de ideia”, diz Marcelo. “Assim a gente está mais apto a perceber as coisas como elas são, não como criamos na mente.”

Fácil não é, mas também não é impossível. Então vamos à prática.

Prepare-se como der

Dor, barulho, fome, frio, calor, vontade de ir ao banheiro… Tudo isso pode atrapalhar a meditação. Então, antes de começar, procure se instalar em um ambiente silencioso, desligue notificações do celular, encontre uma posição confortável sentada ou deitada (mas nem tão confortável a ponto de você cair no sono).

A preparação ajuda, mas também não precisa pirar em criar o clima perfeito.

“Se tem que ter a sala perfeita, com iluminação perfeita, o cheirinho de menta, a musiquinha não sei o quê, você acaba não praticando nunca”, diz Marcelo. “Eu moro em São Paulo, é barulhento. A gente tem que aprender a lidar com isso. É um elemento de distração que faz parte da prática, assim como os pensamentos.” 

Tudo bem se distrair

“Não existe isso de ser bom ou ruim na meditação. ‌Esse não é o ponto‌. Toda vez que você se distrai, você começa de novo, então perceber a distração é uma prova de sucesso”, disse ao The New York Times Jeff Warren, coautor do livro “Meditation for Fidgety Skeptics” (Meditação para céticos inquietos). Marcelo faz coro: “O exercício é perceber a distração e direcionar novamente o foco (para a respiração, por exemplo). Se não me distraio, não me exercito.”

Devagar devagarinho

Meditar é como um treinamento para corrida: você não começa já disputando maratona. Então, para quem está iniciando, melhor praticar por períodos curtos, coisa de 5 minutos, e ir aumentando esse período aos poucos (vale colocar um alarme para marcar o tempo). Em vez de tentar de cara meditar por 20 minutos, invista desde o início em regularidade, praticando todo dia ou pelo menos quatro vezes por semana.

Não precisa parar

Tem quem se remexa na cadeira só de pensar em ficar sentado meditando. Mas também é possível praticar em movimento. “O treinamento de atenção pode ser feito com qualquer foco único. Você pode, por exemplo, caminhar com foco na sola do pé.” Aí, se o pensamento voar longe, você traz de volta para o corpo. E vale levar a ideia da atenção plena para outros exercícios, como ioga, corrida, alongamento ou mesmo crossfit. Ou ainda para pequenas atividades do dia-a-dia, como beber água e escovar os dentes (os dentistas agradecem).

Procure orientação

Procurar um profissional que acompanhe as práticas pode ser benéfico não só para o exercício em si, mas para aprofundar nas descobertas que surgem no caminho. “Pode virar uma ferramenta de transformação mesmo”, diz Marcelo.

E então, pronto para meditar como der e abraçar até as distrações? Então bora lá! Boa prática!