Rafa Brites: “Para nós, mulheres, liberdade é algo que precisa ser conquistado e exercitado”

Liberdade: seria ela um direito, um estado, uma sensação, uma condição? Quando penso na palavra liberdade tendo a associá-la a imagens da natureza, uma mulher com os cabelos ao vento, pés descalços na areia, um banho de cachoeira… Talvez essas cenas estejam em câmera lenta no meu imaginário. É encantador. 

Mas em minha vida, como mulher, entendo a liberdade como algo que precisamos conquistar e exercitar. Conquistar porque sabemos que infelizmente não somos livres. 

São séculos de batalhas para que possamos viver seguras, participantes nas decisões da sociedade e reconhecidas por nossos feitos.

Eu, consciente dos privilégios que vivo, me sinto na responsabilidade de conseguir fazer com que outras mulheres conquistem um passo a mais rumo a liberdade. Sei que o lugar onde estou me permite fazer escolhas. E não por acaso as decisões em minha vida estiveram sempre ligadas à independência e à liberdade de outras mulheres.

Exercício de liberdade

Agora sobre exercitar a nossa liberdade… Gostaria de confessar que nem sempre é tão simples. Diferentemente das cenas poéticas que me vêm à cabeça , na vida prática eu me vejo livre quando consigo dizer um não, ou tomar uma decisão sem ter medo dos julgamentos. Quando me sinto livre para ser uma mãe que talvez perca uma reunião da escola por causa do trabalho, ou uma reunião importante por causa dos filhos.  Não é tão romântico pensar que me sinto livre quando, em uma reunião em ambiente corporativo, eu tenho coragem de erguer a mão e questionar alguma decisão. Mas eu sei o quanto me custam esses pequenos momentos antes de tomarmos atitudes para exercer nossa liberdade. 

Gosto de chamar de veladas aquelas convenções sociais em que ninguém nos diz explicitamente como devemos agir, mas existe essa conduta quase que obrigatória e que nunca paramos para questionar. A maneira como nos sentamos, nos vestimos, como é nossa risada, parece que para sermos quem somos realmente temos que ir contra o que nos foi ensinado.  Somos múltiplas, diversas, como querer nos colocar em uma única caixinha?

Uma mãe livre

O momento que exerci a maior liberdade em minha vida foi quando consegui falar alto e em bom tom sobre as dificuldades da maternidade, em uma época que era quase proibido nos “queixarmos” das dores que também existem no momento divino que é a maternidade. Tenho orgulho de ter tido essa coragem de liberdade de expressão e sei que ajudei muitas mulheres a não se sentirem tão sós. E digo isso porque cada vez que sei que algo que eu escrevi, publiquei ou falei ajudou uma mulher, mais livre eu me sinto. 

Que a gente consiga o direito de viver nossa liberdade individualmente e coletivamente em harmonia!