Primeiro, um aviso: este título contém ironia. Segundo, um desabafo: torço para que as mães dos amigos de escola do meu filho não descubram a minha @ e desmascarem o multiverso da mãe fashionista, rolezeira, meio fitness, escritora sentimental e blogueira cheias de gracinhas e opiniões. Meio como se eu não me encaixasse no perfil adequado do que se espera de uma mãe da tradicional família, sabe?
Mas, o que se espera de uma mãe? De uma boa mãe? Mais que isso, o que é ser uma boa mãe no fim das contas? Faz pouco mais de quatro anos que essas perguntas correm em minhas veias, fazem meu coração palpitar e deixam meu cérebro formigando. Já tentei de tudo para respondê-las: li Winnicott (recomendo) e uma obra que fala do encontro com a própria sombra (não recomendo); fiz muita análise (recomendo), segui mil e um perfis de pediatras e criação de filhos (não recomendo), chorei litros, ri horrores, amei amamentar, odiei amamentar, fui, voltei, separei, mudei de casa, de ares, de jeito de ver o mundo.
Vivendo e aprendendo
Aceitei mudar as regras do jogo – as alheias e as minhas próprias -, uma tarefa árdua para a mãe virginiana. Nessas idas e vindas saquei que a maternidade real mora além do manual da introdução alimentar e da parentalidade positiva. Desde que nasceu Martim, a coisa mais linda que já conheci, em novembro de 2019, sou vísceras, ação, intuição. Tenho uma sede imensa de viver, o que não significa que consigo ir muito além da mãe suficientemente boa, a mãe possível dentro da minha estrutura psíquica, financeira, emocional. Informação é poder, claro, mas saber como usá-la a favor da sua realidade garante uma mochila de noias a menos nas costas.
Com o passar do tempo, em vez de seguir me culpando por não saber cozinhar o bolinho saudável de chuchu com brócolis e por ser ruim com blocos de montar, passei a olhar de uma forma amorosa para o meu maternar. Meu estilo de ser mãe inclui conversas meio profundas sobre o que sentimos – ainda que Martim tenha apenas 3 anos. Inclui cama compartilhada, livre demanda, beijo de esquimó e de borboleta, noites de Harry Potter e sorvete, horas a fio ouvindo as músicas das princesas, banho demorado com sopa de shampoo, dança pra escovar os dentes, um que lê enquanto o outro brinca…
Mas inclui, acima de tudo, um jeito de falar, de tratar – meio de igual pra igual, com empatia, afeto de monte, olhos nos olhos. Inclui exemplo. Em meio a tanta dúvida e autoquestionamento, paro para nos observar: eu, maior; ele, olhos sorrindo, palavras brotando, corridas malucas, abraços imensos. Está dando tudo certo, existe amor de sobra, nossa verdade funciona. E não há roupas curtas, maquiagens, rolês, posts no Instagram ou família tradicionais que mudem isso.
Deixe as mães, ajude as mães, não julgue as mães. E felizes dias para nós.