Magliani desata os nós da arte e da vida

Foto: Acervo Núcleo Magliani/Divulgação

Procurando um rolê cultural bacana? Pois aqui é o lugar certo para você se programar: a partir de agora, a gente vai apresentar no blog roteiros especiais pelas instituições que contam com o patrocínio da Renner. E a nossa primeira dica é uma visita a um dos melhores museus do Brasil: a Fundação Iberê, instituição cultural sediada em Porto Alegre. Ocupando um moderno prédio construído pelo arquiteto português Álvaro Siza localizado de frente para a orla do Guaíba, a Fundação Iberê está atualmente com três exposições em cartaz: “Santídio Pereira – Incisões, recortes e encaixes”, “Iberê e Porto Alegre – No andar do tempo” e a imperdível mostra “Magliani”. Vamos conhecer então um pouco da obra da primeira artista negra a se formar no Instituto de Artes da UFRGS?

“Não separo a artista da pessoa. Sou toda um mesmo nó – minha escolha é pintar, não saberia como ser de outro modo. Aparentemente fiz e faço muitas outras coisas, na verdade, todas partes de uma só, a pintura.” Assim Maria Lídia Magliani (1946 – 2012) definia ao mesmo tempo a si própria e a sua arte. Uma das mais importantes artistas brasileiras contemporâneas, a gaúcha é o tema de uma grande e inédita exposição na Fundação Iberê.

A mostra “Magliani” reúne cerca de 200 obras provenientes de mais de 60 coleções, incluindo os principais museus do Brasil, como o Museu de Arte do Rio e o Museu de Arte Moderna de São Paulo – ambos também apoiados pela Renner. Com curadoria de Denise Mattar (SP) e de Gustavo Possamai (RS), a exposição inclui trabalhos desde a época de estudante da pintora, no início da década de 1960, até 2012, ano de seu falecimento.

A pelotense Magliani foi para Porto Alegre com quatro anos, onde mais tarde estudou artes plásticas. Em 1980, mudou-se para São Paulo, morando depois em Tiradentes (MG) e no Rio de Janeiro – porém, nunca se desligou da capital gaúcha e de sua Pelotas natal, realizando regularmente exposições nessas cidades

“Figura Noturna” (1983). Foto: Fabio Del Re, Viva Foto/Divulgação

“A obra de Magliani é um desafio. Não é uma arte fácil, é feita para incomodar, para fazer refletir. A artista estava interessada nas questões humanas, nas relações entre os seres, nos problemas e no sofrimento inerente à existência: o desencontro, o desamor, a hipocrisia da sociedade, o medo da solidão”, destaca Denise Mattar, que conheceu Magliani em 1987, quando era diretora técnica do MAM-SP, e a artista participou do “Panorama da Arte Brasileira”.

Ocupando dois andares da Fundação Iberê na capital gaúcha, “Magliani” cobre cerca de 50 anos de produção da artista em ordem cronológica – dos primeiros trabalhos em tons mais fechados até as figuras coloridas da década de 1980 em diante, em que destaca o corpo feminino tanto como expressão de sensualidade quanto objeto da violência masculina. A retrospectiva inclui ainda duas das três obras da artista que estiveram na Bienal de São Paulo de 1985.

Sem título. Foto: F. Zago-Studio Z/Divulgação

Sem título (1979). Foto: F. Zago-Studio Z/Divulgação

“Eu gostaria de dizer às pessoas que veem os meus quadros: ‘Sinto muito senhores, não é agradável’”, escreveu Magliani em 1997. Aliás, uma das atrações da exposição são as fotos em grandes dimensões e frases da artista, espalhadas pelas paredes e corredores da Fundação Iberê. Criadora que desafiou preconceitos de gênero e raça, Magliani era uma inconformista: “Minha mãe falava: ‘Não se pode dar um passo maior que as pernas.’ Então vou ficar sentada, não vale a pena caminhar? Qual é a graça? Dar um passo maior que as pernas sempre. Romper expectativas, e os estereótipos principalmente”.

“Carta de Abril” (2010-2011). Foto: Denise Andrade/Divulgação

A exposição “Magliani” fica em cartaz na Fundação Iberê até o dia 31 de julho. Mais informações você encontra no site da instituição. Curtiu a nossa dica? Então acompanhe a gente no blog e nas redes sociais para saber as novidades do Renner Cultural – movimento que reúne todos os projetos apoiados pela marca com o objetivo de ampliar o acesso à cultura.

Sem título (1985). Foto: Fabio Del Re, Viva Foto/Divulgação