É o fim das redes sociais como conhecemos

 

Mesmo que você não seja fã, é inegável que o TikTok é a rede do momento – e até já ultrapassou o Instagram em número de novos downloads no mundo inteiro. Com tamanho crescimento, não demorou para que as empresas concorrentes começassem a ficar de olho – a Meta, dona do Facebook e do Instagram, foi uma das que sentiu o impacto após perder o posto de número 1 em crescimento. Adam Mosseri, o diretor da companhia, disse que o Instagram passaria a privilegiar vídeos em sua timeline, “deixando oficialmente de ser uma plataforma de compartilhamento de fotos.” 

Até aí, nada de novo, só mais uma rede social seguindo a tendência de outra, certo? Mais ou menos, já que existe uma diferença conceitual entre o Tiktok e as plataformas da Meta que mudam toda a forma como podemos analisar essa questão. O Tiktok é, na verdade, como eles próprios se definem, uma plataforma de vídeos curtos. Mas onde está a diferença dessa para uma plataforma social, como o Instagram? A questão central está na forma como o algoritmo do TikTok funciona.   

TikTok e a era da recomendação 

Como explica o escritor Michael Mignano, o algoritmo do TikTok favorece conteúdos que despertam a atenção e o engajamento dos usuários. A plataforma define as recomendações com base nos conteúdos que estão “bombando” no momento, adaptado também ao que cada usuário costuma consumir e interagir. Já nas redes sociais, o conteúdo é distribuído através da rede de pessoas conectadas através do “seguir” ou “adicionar como amigo”.  

Isso significa que no feed do TikTok você não vê os vídeos dos seus amigos ou dos perfis que você admira e segue, mas sim qualquer pessoa que tenha uma conta na plataforma e um vídeo viralizado. Para especialistas como Scott Rosenberg, a tendência de redes sociais mudarem suas estruturas para ficarem cada vez mais iguais ao TikTok inaugura o fim da era das redes sociais, para dar início à era da recomendação.  

Na era da recomendação, a moeda é a atenção, e uma plataforma que privilegia o assunto mais popular, com estímulos visuais constantes, certamente sai na vantagem. O problema está na perda da autonomia tanto para quem consome quanto para quem produz conteúdo para as plataformas – sem contar a intrusão algorítmica, que é aquele sentimento de estar sendo invadido por recomendações externas, que em algum ponto passam a confundir as escolhas do indivíduo. Sabe aquele sentimento de “será que estou vivendo ou apenas seguindo as recomendações que vejo na internet”? É tipo isso. Do ponto de vista psicológico, acabamos perdendo o senso de identidade e a sensação de escolha.  

Uma questão de algoritmo 

Vale lembrar que os algoritmos tradicionais do Instagram já não são os mais democráticos do mundo, sobretudo quando se pensa em quem produz conteúdo profissionalmente. A plataforma já é pouco transparente e as mudanças são constantes e confusas. Para permanecer no jogo é preciso se adaptar a todo momento, muitas vezes se rendendo a formatos não tão originais.  

Com a Tiktorização da vida online, quantos criadores vão querer ou ainda ter condições de permanecer produzindo para plataformas que privilegiam apenas um único modelo de conteúdo? E a tiktorização não está só no Instagram – já que o YouTube também entrou na onda lançando os “Shorts”, ferramenta de vídeos no formato do TikTok, que já virou uma das abas principais dentro da plataforma.  

Se tudo na internet virar vídeo curto em formato vertical, onde fica a pluralidade de conteúdos, olhares e discursos que agradam a todos os públicos? Ainda haverá espaço para o conteúdo de pessoas ativistas, educadoras e outras que querem produzir conteúdo sério e mais profundo? Será que fazer “entretenimento com propósito” dentro de todas as limitações de tempo, espaço e velocidade impostas é factível para todas as pessoas? Claro que a gente pode gostar de consumir diferentes formatos de conteúdo, seja em vídeo, em foto ou em texto. O problema é quando a gente se cadastra numa plataforma para ver foto e acaba recebendo vídeo mesmo sem querer.  

O futuro das redes 

No meio de todas essas transformações rápidas demais, parece que o poder de decidir o jogo está na mão de um pequeno número de plataformas gigantes que dominam boa parte da cultura online hoje. Por isso, nesse momento de sacudida, talvez seja hora de pensar no monopólio dessas grandes empresas. Será que vale a pena tentar a todo custo se encaixar nas diretrizes de plataformas de terceiros – seja ela uma rede social ou uma rede de vídeos?  

O quanto temos empenhado nosso tempo para produzir, entregar e consumir conteúdos que pouco acrescentam na nossa vida e na de outras pessoas, enquanto mantemos a lógica de estruturas que são muito maiores que nós e que estão ganhando muito com isso? O convite é para pensarmos sobre o quanto estamos dependentes desse ciclo – que não é decidido pelas pessoas que criam e consomem, mas é alimentado por elas.  

E se o fim das redes sociais como conhecemos está próximo, para onde vai o desejo de socializar e encontrar com amigos, familiares e pessoas que admiramos no ambiente virtual? Com um forte senso de comunidade, o universo dos games parece surgir como uma possibilidade de alternativa para a confraternização online.  

Metaverso 

Apesar de serem vistos ainda como parte de um universo bem nichado, os games coletivos passaram por um boom durante a pandemia. Já os games que reproduzem dinâmicas já conhecidas no mundo analógico se tornaram uma febre mesmo entre os “não gamers”, tornando-se uma opção de socialização em tempos de isolamento.  

Mesmo com o fim do alerta da pandemia, eles acabaram atingindo um público que até então não se interessava por esse tipo de entretenimento. E para quem não curte jogar mas gosta do momento de socialização, vale se conectar na Twitch e acompanhar os streamings de jogos. E claro, com toda a discussão atual sobre Metaverso, é bem provável que os jogos interativos e cooperativos se firmem como possibilidade para quem deseja perpetuar a formação de comunidades online. E aí, você está pronto para virar gamer?