Maternidade: como (re)encontrei a mim (e ao meu guarda-roupa)

Levava uma vida sossegada, gostava de sombra e água fresca… E aí, fiquei grávida! Oi, eu sou Giovana Romani, jornalista especializada em moda e beleza, editora deste blog aqui, mãe do Martim, de quase três anos, uma defensora ferrenha da ideia de que roupas refletem um jeito de existir no mundo, um tempo, um contexto político e social. E que se viu desconectada de toda essa crença no período da gestação e do puerpério.

Quando falarem para você que a maternidade muda tudo, acredite. Não é drama, não é “romantizar a desromantização da maternidade”, como li dia desses, é um fato. Pode ser bom, pode ser ruim, pode só ser – para quê polarizar tudo, não é? No meu caso foi uma avalanche: aos 34 anos, eu tinha a maternidade como um desejo latente porém longínquo. E quando ela veio mudaram as relações, o corpo, as prioridades, os desejos e, claro, as roupas que acompanham tudo isso.

Y2K da vida real

Em termos de estilo, digamos que o meu seja definido por tendências. Nunca tive medo de usar nenhuma delas, mesmo, e acho o termo “vítima da moda” desnecessariamente pejorativo. Na adolescência, nos anos 2000 (rebatizados pela Gen Z de Y2K, eu amo), usei tudo o que está de volta na moda: a calça cargo de cintura baixa, o corset, a regata de alça fininha, a bolsa de strass, as plataformas… Usei também o que não voltou e hoje é considerado muito duvidoso, como a bota plataforma de cano médio e o tênis branco de salto. Não me arrependo de nada. Moda é estado de espírito e o meu naquele momento era aquele. 

Cresci, me formei em jornalismo, atuei em outras áreas até me embrenhar nas revistas e sites de moda. Aí comecei a entender a cadeia de perto, a pensar o estilo enquanto expressão de personalidade, a entender que certos elementos fazem da gente quem a gente é, são uma marca. No meu caso, na época, minissaias, saltos vertiginosos, jaquetas coloridas e muito brilho. Escrevendo agora fico impressionada como, tão nova, era tão mais segura. Vestia, saía e me sentia ótima com a minha imagem, que transcendia, sim, o que havia dentro. 

Em busca da identidade perdida

O vestido do meu primeiro casamento, por exemplo, assinado por um estilista americano, deu mais certo do que a relação. Divorciada, dei uma renovada nos looks e passei a querer uma atitude mais despojada, passei a usar saia mídi, tênis, sobreposições, produções cheias de alegria e ousadia. E então veio o positivo e, num scroll de Instagram, me perdi de mim mesma. Quase não lembro o que vesti nessa época (talvez tenha escolhido esquecer?). 

No puerpério, que coincidiu com o isolamento social devido à pandemia da Covid-19, não reconhecia nenhuma das peças do meu armário. Fiz sacolas e mais sacolas de doação. Sobrou tão pouco que piorou a crise (que não era só fashion, mas isso é assunto para outro texto). Como não podia andar pelada por aí, criei pastas no Pinterest do que queria vestir. Inventei uma nova identidade, que, na minha cabeça, combinava com meu cargo de liderança na época: eu vestiria jeans ou calça de alfaiataria e camisa. Tudo em tons neutros, com escarpins de salto grosso e bolsinha a tiracolo. Make leve, cabelos curtos.

Chique, né? Muito, para aquelas que, enfim, têm esse visual. Não sou eu! #Chateada, parti para mimetizar o estilo das minhas amigas. Tentei os saltos menores, os conjuntos lânguidos, os vestidos conceituais que casam perfeitamente com aquele cabelo dividido ao meio. Como ficam tão bem nelas e tão estranhos em mim?

Enfim, os refrescos (e os bons looks)!

Levou um tempo pra fechar o que feriu por dentro: meu filho crescer, a vida social voltar, os rumos da minha carreira mudarem e, claro, um tanto de terapia para encontrar a pessoa que eu queria ser: no caso, eu mesma. E o que eu uso hoje? As mesmas tendências de moda de que era uma boa vítima lá nos anos 2000, mas sempre adaptadas ao meu estilo – que é, digamos, bem pouco minimalista e conceitual. 

Neste 2022 fui early adopter dos sapatos plataforma perfeitos da Renner – tenho um de cada cor e posso provar que eles são mais que versáteis. Admiti que estampa de onça é tipo básico para mim, igual preto ou branco, sabe? Vai com tudo. Aceitei que amo tops cropped e ninguém pode impedir uma mulher, mãe, de 37 anos de usar um. Acreditei no poder da roupa enquanto mensagem, política, diversão. Acreditei no meu poder. Agora versão também mãe do Martim (em cima de plataformas altíssimas, sim!). Rimou.