André Carvalhal: estudos mostram que mundo está menos colorido

Você tem a impressão de que roupas, carros e até itens de casa já foram mais coloridos? Quem viveu nas residências brasileiras construídas nas décadas de 40 e 50, lembra das louças coloridas de banheiro, que eram sucesso.  

A sensação de que o mundo está perdendo a cor não é só impressão. Um estudo feito pelo Science Museum Group mostrou que tudo está ficando mais cinza. De acordo com o Museu, houve um declínio na quantidade de cores dos objetos, mais ainda nos últimos 50 anos. 

Por que o mundo está menos colorido? 

O principal motivo por trás da neutralização do mundo está na padronização mercadológica. Produzir e vender em escala é mais difícil com muitas cores diferentes. No estudo do Museu, fica nítido que o aumento do cinza ao longo das décadas é acompanhado pelo declínio dos tons amarronzados, avermelhados e amarelados. Isso pode se dar pela mudança no uso dos materiais, como a substituição da madeira pelo plástico, por exemplo.  

Um grande marco nessa padronização é o lançamento dos primeiros smartphones, em 2007. Desde o início, as empresas apostaram no design simplificado e nas cores neutras, como cinza e preto. O sucesso ajudou a definir os caminhos não apenas da indústria tecnológica, inspirando toda a área do design.   

Qual o problema da falta de cor? 

Mas até aí, existe algum problema no uso excessivo dos tons de cinza? A forma como as cores influenciam no dia a dia vai muito além de uma questão de preferência, já que elas podem interferir no humor e ajudar a transmitir emoções. Falar que uma pessoa está ‘vermelha’ pode explicar sentimentos de raiva ou nervosismo; enquanto ‘verde’ é uma cor usada para se referir a enjoos e mal estar.  

Um estudo de 2010 publicado na BMC Medical Research Methodology mostrou que o cinza é apontado por pacientes para representar a depressão, enquanto o amarelo é uma metáfora comum para a alegria.   

Essa é uma associação que faz todo sentido evolutivo, já que relacionamos o sol [amarelo] à saúde, enquanto dias muito nublados [cinzas] diminuem a produção de serotonina no corpo e nos fazem sentir uma certa perda de energia. A depressão sazonal, por exemplo, é um quadro muito comum em países nórdicos durante o inverno, quando as pessoas passam por muitos dias sem a luz do sol.  

Cor e cultura 

Porém, além dos efeitos neurológicos e biológicos, claro que as cores também carregam significados culturais. Por isso, as cores neutras também podem estar associadas à calma e relaxamento. Mas fato é que a gente não precisa se limitar aos 50 tons de cinza sempre rs. Um mundo muito padronizado se torna monótono e previsível, criando um desejo maior pelo novo.  

Se as cores ajudam a contar histórias, as vibrantes ajudam a representar efervescência e diferenciação. Não é à toa que uma das tendências de moda mais marcantes surgidas no pós-pandemia foi o ‘dopamine dressing’, que parte da ideia de vestir cores intensas para auxiliar na sensação de bem estar. Uma análise do Pinterest em 2022 encontrou um aumento na busca por termos como ‘vestido arco-íris’, ‘azul elétrico’ e ‘roupas vibrantes’.  

Apostar nas cores como um artifício a mais na hora de transmitir sentimentos é sempre uma boa ideia. Não à toa, para a indústria criativa, as cores são melhores amigas das expressões. E você, é do time dos neutros ou dos coloridões?!