A moda e o clima: Giovanna Nader explica essa relação

É com muita felicidade (e um cadinho de ansiedade) que hoje, a convite da Renner, começo a divagar mensalmente neste espaço sobre um dos meus temas favoritos: moda responsável. Esse assunto já faz parte da minha vida há 10 anos, desde que criei o Gaveta, um projeto de troca de roupa. E, desde então, as ações que se referem à sustentabilidade na moda mudaram bastante: moda sustentável já foi principalmente sobre reciclagem, uso de roupa usada, tecidos biodegradáveis, tingimentos naturais, comércio justo… Mas hoje todos esses conceitos fazem parte de um só guarda-chuva, o clima.

Estamos diante da maior urgência já vivida pela nossa geração. A crise climática já foi confirmada por 99% dos cientistas e temos apenas 10 anos para mudar o rumo das coisas. Se falharmos nessa meta, a temperatura da Terra ultrapassará o aquecimento de 1.5 graus celsius, um número que parece pequeno, mas já é o suficiente para provocar uma série de catástrofes ambientais e impactar diretamente a nossa qualidade de vida no planeta. Esse aquecimento só será freado se reduzirmos pela metade a redução dos chamados gases de efeito estufa.

Consciência fashion

E, nesse momento, enquanto lê esses parágrafos você deve estar pensando: “tá, e o que a moda tem a ver com isso?” Muito mais do que imaginamos, uma vez que a moda está diretamente ligada às mudanças do clima.

Um estudo da consultoria Mckinsey mostra que em 2018 a indústria da moda produziu 2.1 bilhões de toneladas de CO2, isso representa 4% das emissões de carbono global, uma porcentagem mais alta que as emissões da França, Alemanha e Reino Unido juntas. Portanto, a indústria da moda tem mais do que a obrigação de agir pelo clima e produzir de modo mais responsável e para que isso aconteça nós precisamos mudar drasticamente a maneira como nos relacionamos com ela.

Outro ponto que deve ter chamado a sua atenção até aqui é que, a todo momento, uso a primeira pessoa do plural para referir a mudança, e quando digo nós, incluo também eu e você. Uma diversidade de atores e intermediários estão presentes nessa ação e todos nós, juntos, podemos contribuir para reverter o cenário atual.

Como? Vamos por partes…

No que diz respeito às indústrias, a mudança se faz presente na maneira de produção da matéria-prima, estrutura física das fábricas, diminuição da água nos processos e diminuição de desperdício, por exemplo. E, para que isso aconteça, é preciso investimento – tecnológicos, financeiros, de inovação e equipe. Por mais difícil que isso possa parecer, já existem grandes marcas comprometidas de maneira séria e genuína para recalcular a rota.

A Renner é um ótimo exemplo disso. Um recurso natural muito usado na indústria é a água, nosso bem mais precioso. A Renner desenvolveu uma metodologia própria para medição da Pegada Hídrica – ou seja, o cálculo do consumo de água em tempo real nas etapas de produção, classificando aquela atividade em três faixas de consumo: baixo, médio e alto. Para garantir a credibilidade dos dados, a metodologia foi submetida à análise de uma terceira parte e foi validada. Ao medir o consumo de água nas etapas de confecção e acabamento, pode-se implementar processos menos impactantes para atingir o baixo consumo de água.

Iniciativas possíveis

Durante o processo de escrita dessa coluna visitei a loja da Renner do Shopping Rio Sul, no Rio de Janeiro, para entender melhor como as lojas podem reunir atributos de sustentabilidade que gerem menor impacto ao meio ambiente. Ali pude ver a economia circular desde a concepção até a operação da loja. O mobiliário foi produzido com materiais recicláveis, dos manequins aos caixas, o conceito de biofilia foi abraçado pela arquitetura, com plantas e elementos naturais, energia renovável de baixo impacto e baixo consumo de água.

E por fim chegamos a nós, consumidores. Lavar menos, secar de maneira natural, descartar menos e corretamente são mudanças que parecem pequenas, mas podem ser significativas na fase de uso da roupa.

Aqui faço questão de citar uma iniciativa que nos dá uma mãozinha no descarte. Os coletores Ecoestilo que estão disponibilizados nas lojas da Renner para descartarmos roupas, independente da marca, que não usamos mais. Um serviço de logística reversa pós-consumo que nos ajuda a promover a reciclagem correta das nossas roupas.

Apenas encarando de frente a mudança, colaborando juntos e abraçando novos sistemas é que vamos transformar a indústria e criar prosperidade para comunidades ao redor do mundo. Então não importa onde você esteja neste ciclo da moda, é necessário agir hoje para salvarmos o amanhã.

Conto com vocês para embarcarem nessa viagem comigo e mal posso esperar para a gente se encontrar na próxima coluna.