Mas afinal, o que é moda responsável? Giovanna Nader responde

Começo dizendo que é um grande desafio falar de moda e sustentabilidade, uma vez que esse mercado está entre os cinco mais poluentes do mundo. Mas, justamente por isso, as marcas precisam olhar com seriedade para mudanças sistêmicas em suas estruturas e modos de produção. E como por aqui vou falar principalmente dessa pauta, acho importante contar que recentemente a Renner deu início ao movimento Somos Re em todas as lojas e canais online da marca. Ação importante para deixar claro o real sentido de moda responsável e refletir sobre as iniciativas em que o segmento pode se apoiar. 

Sendo bem direta e compartilhando a minha própria definição, moda responsável é aquela que respeita o meio ambiente e a sociedade, valorizando pessoas envolvidas no processo e incentivando o consumo consciente. Mas é importante destacar que uma marca verdadeiramente responsável é aquela que se preocupa não com um, mas com vários pontos de sua cadeia, tanto na questão ambiental quanto na social.  

Mas, na prática, como uma marca de moda pode se tornar mais sustentável?  

De várias maneiras. Por exemplo, o produto comercializado pela marca pode ser feito a partir de materiais mais sustentáveis, que vão desde tecidos biodegradáveis como o linho, algodão, lã à fibras manufaturadas a partir da celulose das árvores, como a viscose e liocel, que embora sejam obtidas por meio de processos artificiais, também voltam para a natureza depois de descartadas. A peça pode também ser feita a partir de tecidos que já existem com a técnica do upcycling. 

Outra responsabilidade por parte das marcas é diminuir o uso de água durante a produção. Sabia que uma única calça jeans pode gastar até 9.500 litros de água durante sua vida útil? E isso inclui etapas como o plantio do algodão, o tingimento até litros gastos pela máquina de lavar. Hoje, graças à tecnologia e disponibilidade de pesquisa por parte da indústria, já é possível produzir uma única calça jeans usando pouco ou quase nada de água.  

Um exemplo disso é o Re Jeans desenvolvido pela Renner, feita com algodão responsável, baixo consumo de água e até mesmo peças feitas a partir de sobras de tecido que foram desfibradas e transformadas em novas. Além disso, a Renner desenvolveu uma metodologia própria para a medição da Pegada Hídrica nas etapas de lavanderia e acabamento de seus produtos em jeans.  

Impacto social 

Poderia ficar horas falando sobre as mudanças que já são possíveis na parte ambiental, que vão desde redução de emissão de gases de efeito estufa até o auxílio a seus clientes do descarte correto de peças (alô coletor Eco Estilo!), mas quero falar também sobre a questão social.  

Quanto mais estudo sobre o tema, mais aprendo que moda, para além das roupas, é sobre as pessoas. É sobre remunerar de maneira justa sua mão de obra, apoiar a cadeia certa de produtores, dar visibilidade para comunidades tradicionais e promover a representatividade dentro e fora da empresa para que mais pessoas se sintam incluídas nesse universo.  

É também sobre inclusão social: apoiar mulheres, grupos étnicos e minorias é a melhor forma de valorizá-los. Trata-se de incluir essas pessoas em todas as etapas do negócio, capacitando-as tecnicamente e oferecendo o devido reconhecimento financeiro ao seu trabalho. Aqui, não poderia deixar de citar o trabalho feito pelo Instituto Lojas Renner que vai desde o desenvolvimento de produtoras de algodão agroecológico, fomentando a agricultura familiar, até o desenvolvimento de lideranças comunitárias que priorizem a construção de ambientes férteis para o protagonismo feminino. Pelo Instituto já se passaram mais de 900 projetos e 215 mil pessoas beneficiadas. Uma vez que vivemos em um país tão desigual, é também responsabilidade das marcas diminuir essa desigualdade através de seu negócio.  

Vou me despedindo com a esperança de que tenhamos uma troca produtiva por aqui, mas antes quero ressaltar que marcas podem e devem abordar a sustentabilidade em vários pontos da cadeia, mas, dentro do atual sistema econômico, é impossível que sejam 100% sustentáveis. O caminho da mudança já está acontecendo e é longo. Por isso, estejamos todos de olhos atentos e apoiando aquelas que estão dispostas a fazer mudanças sistêmicas e genuínas.